Wednesday, September 9, 2009

18-01-2009

"Amo o cheiro, amo o contorno. Saudade, é a da tua presença que relutantemente insiste em falhar a todos os encontros, como notas de 100€ - ou ar numa piscina - simplesmente falham. Uma e outra vez quando mais preciso. Como disse o Grande outrora, ‘esta nota deveria ser fácil de entender’. Apaixono-me por aquilo que silenciosamente sonhava que fosses. Um fantasma? Provavelmente. Se leres este texto, diz-me que és tu. Se te virem, que te digam onde estou. Se me vires tu, é porque te lembras do sítio, entretanto, eu daqui não saí..! E com a força daquilo que sinto arranco-te da minha mente e desenho-te presencialmente. Mas não te vejo, por enquanto, apenas continuam a estar, tortuosamente paradas a olhar para mim, uma folha e umas frases sem sentido que não passam da logorreia que corre por mim de um modo doentio. Quero falar mas não atendes. Um simples fechar do computador dita o fim a esta hemorragia de palavras que me saltam agora. Mas, como toda a frincha mal fechada, rapidamente iria abrir uma brecha e acabar num sms sem sentido, ou cinco toques de chamada não concluídos pela tua voz, mas a da operadora. Por isso deixo que escorra, e uma vez que me comecem a falhar as palavras, meto um penso rápido que aguente até amanhã, e pode ser que o diga a ti. Ou não. Faço mais oito respirações e mergulho bem fundo. Quando o folgo, previsivelmente, me falhar, venho para cima e espero que inesperadamente lá estejas. Que a braçada não seja um esforço em vão. Encho o peito, agora. Encho o peito e salto de olhos fechados." 18-01-2009

Juro, meu amor que sempre
Voltarei, p'ra sempre
Ai, meu amor
O que eu já chorei por ti
Mas sempre
P'ra sempre
Gostarei de ti



Só para que se saiba que (até agora) o penso colou tem-se portado bem ;)
Embora saiba que nunca o vá tirar.

Thursday, September 3, 2009

volta ao mundo em trezentos metros

A meia maré vai subindo, e eu fico à espera de vê-la a vazar. Aqui, sentei-me na primeira abertura das nuvens e só me levanto quando for para o mar. São estes trezentos metros que palmilho todos os dias junto á marginal descalço a viagem da minha vida. E faço-a, se preciso, de olhos fechados. Sei-a decor: pelas linhas vermelhas, não pelos paralelos gelados, muito menos pela gravilha, seguindo o trevojar das ondas que atropelam o paredão de sul, só tenho que virar uma vez à direita assim que deixar de sentir a espuma bater-me na cara, afrontada pelo prédio do barbeiro. Trezentos metros. Quantos são os que não ouço todos os dias à beira mar sentados, deambulando que se não fosse isto e não fosse aquilo, iriam acolá fazer não sei o quê. Eu rio-me. Os pés nus que sempre se cortam no caminho, as feridas que tardam em sarar e o pulso que muitas vezes quis vazar com a maré conseguem sempre arder um pouco mais quando abraçados pelo sal. Mas não importa. Estes trezentos metros são uma bênção, não um calvário.
Da arriba, desfruto da minha solidão. Perco o meu tempo, é meu! Vejo o swell chegar, vejo o swell quebrar. E o ilustre molhe, que não se mexe quer a imensidão se vista de gala para ele, quer revele a ira da kalemba que o posterga.
Lembro-me da primeira vez que aqui desembarquei. Foram trezentos metros de jornada que fiz todos os dias, para poder chamar esta arriba a minha casa. Amanhã estou aqui outra vez.

Saturday, July 25, 2009

Estórias da Eira

Subo para cima duma rocha, a do costume. Olho para o sul, que ainda ressaca do pesado inverno que está a acabar. Continua sem fundos. Sinto um arrepio que corre a praia toda, são agora seis e um quarto da manhã e o vento sopra levemente vindo do oeste, arrastando consigo o perfume das algas e lodo desde o pontão. Percorro com o olhar a praia do norte. O nevoeiro é cerrado, forço os olhos. Apenas a brisa que empurra a areia das dunas marca presença na praia. Vejo que o mar se vestiu de gala só para mim e a espuma envolve-o de branco; esboço um sorriso para mim mesmo e pulo do meu trono, já sinto a areia entre os pés.
A prancha debaixo dum braço, a vontade debaixo do outro. Em frente à casa amarela, desço a praia e caminho em direcção ao mar. Lá longe, o Sra da Graça já saiu e começam-se a recolher as redes. Levanto a mão aos pescadores que acenam em respeito e entro para Água. Faz tempo que não me sentia assim.
Umas boas ondas, outras menos boas. Alguns sustos. Sempre sozinho, memorável.
Exausto e com a consciência tranquila de uma manhã bem aproveitada, descanso agora, e sentado de costas voltadas para o mundo vejo que os primeiros turistas começam já a migrar até à praia. Está na hora. Uma mão cheia de ondas a agarrar-me o peito; deixo-a aqui junto ao mar até que a maré encha e a leve. Que a guarde para mim, para a próxima vez. Ou para outros. Pudesse toda a gente ter esta sensação uma única vez na vida. O nevoeiro já começa fugir e o sol espreita com força, por hoje o dia está feito.
A casa ainda fica longe, dirijo-me à eira do antigo casebre à beira da praia. Sentado, está lá um velho. As rugas de expressões cansadas vincam-se nos seus olhos estreitamente abertos, culpa dum sol que bate agora com força. Sol esse que lhe fez as mesmas marcas na cara queimada. Não levanta a cabeça. As mãos gretadas continuam a remendar uma rede. O seu olhar, por muito que pareça focado no trabalho, está a milhas da costa. Três gaivotas pousam na eira, à procura dos restos de peixe na rede, distanciaram-se do grupo que ficou na praia. Pouso a prancha e agarro a toalha para me vestir. “Uma bela semana que aí vem” – disse o velho pescador sem largar o canivete e tirar as mãos das malhas. Os olhos sempre virados para baixo, como se tivesse adivinhado a minha presença. Aquela não era uma das tantas frases de quem mete conversa. Era o desabafo do respirar de muitos anos de mar, duma vida cansada que ainda entrava todas as madrugadas no barco. Saiu com tamanha profundidade que não respondi, não era uma pergunta. Continuo a vestir-me. “Ainda ontem estiveram uns quinze lá na água, aí com as pranchas…estava a maré a vazar pelas quatro da tarde quando começaram a ir embora. Hora pela qual também começavam a aparecer em Maceda os miúdos que se ficaram aqui enquanto tomavam banho. Coisa estranha, o mar. Sobe todos os dias, para levar recordações com ele. E todos os dias desce, trazendo-as de volta.”, acabou de falar e levantou-se do seu mocho para ir buscar a outra ponta da rede. Voltou-se a sentar. “Já dizia o meu pai, “mar que tudo me levas, o pão nos dás”, e verdade seja dita, apesar de se ter perdido numa das correntes de Janeiro, criou sete filhos com o barco. Ele há com cada uma…”. Continuo calado. A reflexão do velho não precisa, em nada, de uma entrada da minha ignorância. As mãos tremem-lhe, será provavelmente das articulações. Ou do copo de bagaço que ainda não tomou hoje. As marcas nas mãos mostram as fendas abertas pelas cordas e pelo canivete, já fechadas com o tempo. E ali, fazendo até lembrar uma velha a fazer croché, continuou o velho pescador a divagar sobre a vida. Filosofava sobre como tudo lhe tinha sido difícil de amealhar, de como comera o pão que o diabo amassou. De como saiu das suas aventuras em mares desconhecidos na pesca do bacalhau, no tempo da crise. Como a guerra lhe tinha ficado com o filho que agora estaria encarregue do barco. Acredito que eu não tinha sido escolhido a dedo para ouvir tais segredos, não me vejo merecedor de tal. Acredito sim que apenas lhe tenha servido como um pretexto para não ter que se render à imagem do velho sábio que fala sozinho e é visto como um louco. Nisto, eu já me tinha sentado. Falou mesmo em politica e de como a sua profissão não tinha futuro. E eu, limitava-me a escutar. As moscas pousavam-lhe em cima, mas parecia não se importar. Já eu, apenas abri a boca para perguntar se precisava de ajuda quando começou a levar a rede para o barraco, já remendada, a qual ele recusou. Guardava lá agora as bóias e o resto das ferramentas, entrava e saía enquanto falava. Os olhos ofuscados do sol, mas não precisava deles, a profissão já o conhecia. Partes eu ouvia, outras partes não. Mas não o mandava repetir. Ele falava para ele, não para mim. Fecha a porta da velha cabana quando eu me levanto. “Bem, ainda tenho que ir à lota ver o peixe. Isto se não tomarmos conta daquilo, vendem tudo ao desbarato. Uma bela conversa, até logo.” – eu ri-me. Em duas horas eu não construíra uma frase sequer. Não me despedi do velho, um “Obrigado” saíra-me espontaneamente. E era bem sincero.
Muitos anos já se passaram. Vejo ainda hoje, que as cataratas me tomaram a visão, o velho, a rede e o verão. Na minha eira sinto a nortada que seguiu toda a semana. Sinto a espuma que brota do mar a encrespar-me a pele manchada, e na sombra respondo com um suspiro de quem não mais conhecerá uma onda, sentirá uma corrente. Não quero que tenha chegado a minha vez de falar sozinho. Não sou louco, muito menos sou sábio.
Um vulto aproxima-se e empunha algo numa mão e algo debaixo do braço, a postura é-me familiar e remete-me para o passado. Hoje o velho já morreu. Hoje quem conta a história sozinho sou eu.

Monday, April 6, 2009

6 Libras

Nunca falharei.
Olha para mim, e vê o pouco que está sempre presente. Aquela parte que nunca vemos mas na verdade sabemos que está lá, não é visível, é oxigénio. Apenas não penses em mim como um grande, faz-me esse favor e não me enalteças. Não me exponhas.
Não quero que tenham grandes expectativas de mim. Apenas que saibam que não falharei.
Não vejas em mim o todo, não me apertes como uma nota de 100€. Essas, são as que mais escasseiam em tempo de crise e eu não gosto de me sentir apertado, não quero ser pressionado, fico sufocado.
Olha para mim agora, outra vez. Vê um banco. Só de notas de cinco. Vá, e de dez também. Aquelas que sabemos que por mais pobres, mais miseráveis que estejamos acabam sempre por aparecer, e mesmo que não apareçam podemos sempre pedi-las, solicita-las, sabendo que no fundo não temos de as devolver.
Não olhes agora, pensa. Mete a mão no bolso. No outro. No bolsinho pequeno do lado direito. Vai bem ao fundo. Eu sou esses trocos que tens aí sem qualquer valor, mas estão sempre contigo. Quando já só tens a ultima moeda para tomar café e mesmo assim tens direito a troco. Aquele pouco a que recorres quando estas vazio. Aquele que se procurares em casa, vais sempre encontrar numa estante ou debaixo da cama. Com pó. No carro ou até mesmo atrás do sofá. Eu estou sempre lá. E o pouco que sou, sabes que é teu e podes gasta-lo até ao fim. No fundo, pode não ser de grande valor, mas desenrasca. Lá bem no fundo.
Agora pega neste texto e faz o mesmo com ele. Guarda-o num canto do teu pensamento e volta a lê-lo já tiverem caído muitas folhas. E muitos cabelos também. Pelo que depender de mim, espero ao juntar todos os trocos te sintas milionário.
Não, este não é para ti. É para todos vós, e assim digo algo que nem o álcool tira da minha voz.

Friday, April 3, 2009

...Priceless

"Sorry boys, all the stitches in the world can't sew me together again. Lay down...lay down.
Gonna stretch me out in Fernandez Funeral Home on Hun and 9th Street. I always knew I'd make a stop there, but a lot later than a whole gang of people thought. Last of the Moh-Ricans. Well…maybe not the last. Gail's gonna be a good mom: new improved Carlito Brigante. Hope she uses the money to get out. No room in this city for big hearts like hers.
Sorry baby, I tried the best I could, honest...can't come with me on this trip, Loaf. Getting the shakes now. Last call for drinks, bar’s closing down, sun's out. Where are we going for breakfast? Don't wanna go far…rough night. Tired baby...tired."

Al Pacino, in "Carlito's Way" - discurso final

Fica aqui também a música do Filme.
You are so beautiful, de Joe Cocker.


Priceless



"Somebody's pulling me close to the ground. I can sense, but I can't see. I ain't panicked. I’ve been here before. Same as when I got popped on 104th Street. Don't take me to no hospital, please. Fuckin' emergency rooms don't save nobody. Sons of bitches always pop you at midnight...when all they got is a Chinese intern with a dull spoon. Oh look at these suckers scrambling around. What for? My Puerto Rican ass ain't supposed to have made it this far. Most of my crew got washed a long time ago.
Don't worry.
My heart, it don’t ever quit. I ain't ready to check out..."
Al Pacino, in "Carlito's Way" - discurso de abertura

Só tenho a acrescentar que é um dos melhores filmes de Sempre.

Thursday, April 2, 2009

treasure map..leads to you. (or not!) / National Geographic

Passando na praça onde se apresentava a parada, vi o batalhão que desfilava. Olhar seco dum gelado cansado esgotei as forças à procura duma nação que não encontrava. Aqui passo todos os dias. E todos os dias passo neste lugar onde nunca estive.
Eis que vejo alguém com o teu nome. Passa com o passo apressado, seca e infértil, vasta e contudo inalcançável. O olhar fervoroso e quente. Tem cabelos longos e ondulados, numa mistura de amarelos e dourados, estendem-se como numa planície. Como tu, é Sara. Oops, Corrijo, Sahara!

Passou e nem para trás olhou, ia acompanhada. Uma amiga. Nada com ela tem a ver, mas as duas contigo parecem gémeas. Magra e pálida, a expressão decidida. Estreita como uma linha e um andar decisivo. Lançou-me um olhar que me gelou o sangue. Personagem sinistra, parece que separa tudo o que amo e o mete a par com o que mais odeio. O nome não lho vi, traz o crachá tapado por um estandarte que segura com fervor. Exalta calor. Se agora a baptizasse, chamar-lhe-ia Equador.

Rio-me agora desta estranha fisionomia, pareceu-me ouvir chamar-lhe Eva. Certamente seria mais um Adão, tem a altura duma girafa e a força dum leão. O olhar afastado, como se a ela não chegassem. Mas a cara não me é estranha, algo me diz que já nos cruzamos. É alta. É inalcançável. Poucos, provavelmente, lá chegaram. Certamente que muitos tentam. Eu quero acreditar que já estive no topo e marquei o meu pico. Esqueci-me que aqui não sou o único, e falei demasiado alto. Diz-me o homem do cachimbo, que a chamam pelo diminutivo. Que o seu nome é Everest. E já sei de onde a conheço.

O povo agita-se, vem um oficial impor autoridade. Apenas um para tamanha multidão! Não consigo perceber a idade, mas parece o teu irmão. Separa por separar. Não tem nada a favor, não tem nada contra. Divide. Doseia! À medida que se aproxima sentes uma falta. Queres mais uma hora, queres menos uma hora. Num minuto estás lá e num salto atrás ainda aqui. É como dar dois passos para a frente e um para trás sem sair do mesmo sítio. Deve ser de família, tens a mesma capacidade. Já está a dois metros e vejo-lhe perfeitamente a cara, levanto-lhe a mão e aceno com um sorriso. Não me enganei. É o teu irmão, o mais velho um ano, o Meridiano.

E eu sigo a parada e faço o meu percurso. Amanhã volto a este sítio. Vou voltar a descobrir, e, quando me cansar deste, procuro um ainda mais longe. Mais rebuscado, pois. Sei que também em ti um lugar impossível está guardado.

Wednesday, April 1, 2009

Neverland

Foda-se.
Desenganem-se todos aqueles que esperam vir aqui ler uma bela dissertação sobre a vida, um poema de amor, ou um texto lírico cheio de enfeitos nos cantos.
Fechem esta página todos aqueles que acreditam que a vida acaba sempre por correr bem duma maneira ou de outra.
Suicidem-se os que me apoiarem no fim da leitura.
Basicamente, acho que parei no tempo. Não falo no sentido tecnológico, nem na moda, nem em culturas. Terra do Nunca, já todos ouviram falar não já?
Quem não ouviu, muito resumidamente, apenas tem de voar até à segunda estrela à direita e seguir até ao amanhecer. Assim o diziam.
A Terra do Nunca é uma ilha fictícia do livro Peter Pan. Nela as crianças não envelhecem. Entretanto, isso é visto como uma metáfora para infantilidade eterna (e infância), importalidade e escapismo
assim o diz a wikipedia. Pois bem, percebi hoje através dumas conversas que nem fui eu a ter (mais um ponto decisivo) que acho que entrei numa espécie de ciclo. Numa terra do nunca, chamem-lhe como quiserem. Mas por outro lado, continuo a pensar como sempre pensei, que eu é que estou bem e os outros têm a mania. E tambem não será esse pensamento mais um sintoma desta minha infantilidade crónica?! Pois, é isso. Reparo que ao fim de 20 anos tudo o que fiz na minha vida, muito resumidamente, foi nada. Sou aquele gajo que nunca trabalhou e sempre pouco estudou. Vivo um dia de cada vez e muito raramente penso no de amanhã, a menos que tenha feito merda ontem e as consequências estejam à porta. Salvo estas raras exepções, nunca tenho problemas na vida e estou sempre na descontra. O problema é que sou como todos, e tenho-os, mas não lhes dou atenção e duma maneira ou de outra acabam por se resolver. Ou vem um problema pior e este acaba por ser esquecido, ou alguem se encarrega de o fazer por mim, tal como o fizeram os meus pais grande parte da minha vida.
Este problema que tenho agora, olho para ele bem de frente e já o tentei resolver várias vezes e vejo que não é um problema. É o arrastar de sucessoes e sucessoes de bosta que vou acumulando até dar por mim na fossa. Perdoem-me a linguagem. Mas continuo.
Não seria suposto, em pleno seculo XX, uma pessoa só começar a ter preocupações a partir dos 22...23 anos?! e entendam-se por preocupações, começar a trabalhar. Não quero sequer para aqui chamar compras de casa e carros, muito menos filhos e dependências (casamentos). É que o tempo passa, e eu não noto diferença nenhuma, continuo a ser o mesmo puto de sempre que só quer é curtir, estudar o suficiente e ter no máximo o mínimo de responsabilidade..não quero que estejam dependentes de mim, quero ter como obrigação ir às aulas e passar. Estou a ser egoista? Talvez, e às vezes tenho noção disso. É infantil da minha parte querer aproveitar todo o tempo que tenho com os meus amigos e sair todas as noites, desde que não comprometa a minha função de ir às aulas? Digam-me porque é que eu acho que não... se sei que daqui a uns anos vou passar um dia num escritório a fazer um trabalho que não gosto, do género design gráfico, sim, porque tiro o meu curso com uma visão utópica que é a de fazer desenhos animados quando sei que estes são mais raros em portugal que a cabra dos açores (ou lá como se chama o bicho).
Com isto, acho que já me perdi do meu propósito. A terra do nunca. De todos aqueles que me prendem a esta pátria, me acompanham nas minhas ditas infantilidades e, muito genericamente, fazem com que eu não me sinta num berço envolto de tanta "gente grande e adulta", sempre ouve aquela especial. Não falo de amores, nem falo de paixões, ela para mim é e será sempre um rapaz (como toda a gente sabe). De todos nós, era a pior. Continuando com a metáfora e não querendo ser piroso, era a Sininho. Aquele expoente máximo da terra do nunca, que é como nós, agarra-nos a este estatuto e ainda evita que a gente parta. Pois bem. A sininho parece que foi no caralho e os pózinhos mágicos dela agora ssão outros..começo a pensar que é arroz ao ar e um casamento que vem aí. Até irrita. A companheira de todas as aventuras, e desencaminhadora das alturas mais sérias, diz agora que cresceu porque tem um namorado e nós continuamos umas crianças. E eu digo: FODASSE COMÉQUÉ POSSIVEL? TERES UM NAMORADO TIRA-TE O TEMPO PARA OS AMIGOS? e a resposta, para mal de todos os meus pecados, é sim. E eu não percebo como é que, primeiro, vocês ainda estão a ler isto, segundo, é possivel trocar os amigos por um namorado/a. O que me remete ao tema inicial...sou infantil? ou sou só egoista e quero os meus amigos comigo? pior que isso tudo, e namorados à parte, é contarem-me segredos do tamanho do mundo e pedirem-me que me cale porque só eu sei e ainda acabarem por me exigir que compreenda que se tenham de afastar de mim por causa desse mesmo segredo, filme no qual a minha participaçao é nula. será que essas pessoas é que agem mal, ou eu, putozito, afinal ja nao sou assim tao puto e já está na hora de procurar uma rapariga atinada com boas prespectivas e que não tenha aspecto de quem vai acabar com o rabo encravado em celulite nos proximos 30 anos e começo a pensar em coisas serias?! virem-me essa broca para lá, rio-me dessa gente. e a sininho ta-se a tornar essa pessoa. e é graças a ela que eu hoje escrevo este posto e reflicto, será que ela mudou assim tanto..ou eu não consigo sair da criançisse e passar a ser um homem? Sim, porque bem vistas as coisas, já tenho a barba.
E se o namorico acabar, hipotese que já lhe coloquei tambem, a sininho vira-se para quem? aqui o peter pan e o resto dos nossos meninos perdidos na infantilidade ou vai ter com o pirata? nao esquecer que já lhe cagou à porta! Nao percebo como é que, simplesmente, se pode desprezar um punhado de pessoas que nunca nos falharam em troca de uma que já nos fodeu, e bem. e ela sabe.
bem..e assim passou uma hora, concluo que daqui nao me mexo. quando tiver de crescer..há de ser instintivo. terra do nunca, aqui fico!
Volta Sininhojo *

Sunday, March 29, 2009

je souris, coscient de lá tragédie

O DESEJO


o desejo, na esperança,
acompanha-me desde criança
não morreu.
querer mais que o que me dava
sempre acompanhado duma lembrança
de quando todos os dias eu ligava
até que ninguem atendeu.
(montagem e texto por mim. post para a TertuliaVirtual, participem tambem!)

na praça depois da meia noite (chapt. 4)

A ambulância passa apenas agora para baixo. Tanto tempo? Um coma alcoólico não ocupa mais de cinco minutos à equipa de intervenção antes de arrancar para o hospital e, agora que olho para o meu relógio, já passam mais de dezoito. Talvez não tivesse sido para a rapariga e antes para uma qualquer zaragata de bar que acabou mal. Ou então mais uma velha que se sentiu mal. Sendo que não é nada comigo, começo a pensar em ir-me embora. Não são horas de andar fora de casa e a rua é um espaço cada vez menos seguro, principalmente tendo em conta que já fui esfaqueado no joelho hoje por uma bolota! Que se dane, não tenho quem me espere e quero aproveitar as noites antes que venha a chuva.

Revolução e o copo de Brandi que molha a palavra


THEY SAY JUMP

YOU SAY HOW HIGH!?

(quote Zack de la Rocha)

A revolta é contra o mundo. Ou o mundo é que não está ao nosso alcance. Ou então, esperamos mesmo demasiado do mundo e só somos surpreendidos por aquilo que não queríamos, mas já o esperávamos. E o pior, é mesmo saber que ainda tenho pela frente muitos anos disto e muita estupidez para ver, para ouvir. Mas não a vou gramar por simpatia. Sou falso, sim, falo pelas costas e todos os dias faço uma revolução ao telemóvel, num blog, ou com uma caneta num guardanapo, sem nunca sair do lugar. Mas nunca me mexi para ser oportunista, graxista. Sei estar calado (às vezes) e sei quando posso dizer o que quero. Mas, acima de tudo, sei que não sou hipócrita e durmo todos os dias a saber que posso ignorar, cago, e sigo, e ao fim do dia estou descansado por mais uma vez não ter sido simpático e por não ter feito um comentário de circunstância, nem mandei um sorriso sem convicção e nunca um abraço que não foi sentido. Por isso, a todos os que esperam alguma coisa de mim...desistam. Ou já a fiz, ou não a quero fazer de todo, estou-me bem a cagar. Não vou começar uma campanha contra o álcool na cidade dos estudantes para dar boa imagem, porque quem o bebe sou eu, somos nós. Não vou a uma luta de almofadas com desconhecidos, faço um prisioneiro de guerra em casa. Não me vou manifestar só para fazer gazeta, para isso fico a dormir. E acima de tudo, não vou ser como vocês. Simplesmente não me convém, para ser estúpido, sou como sou. Sou um reflexo. Sou a minha familia, sou os meus amigos. Sou dos meus amores, sou da vida. Mas não da vossa.

E quando nos metemos a pensar nisto, o resultado é claro, conciso...e estupido. Não dá para mais! :)


"(00:12) “Amigo do Donald” : começo a pensar que nos temos algum problema psicologico ou assim
(00:12) “Donald” : oh..eu ja passei bué a fase das duvidas e conclui uma merda. é tipo uma tese: ou nos somos doentes
(00:13) “Donald” : entenda-se por isto, sofremos duma qualquer patologia cronica, ou que se desenvolveu ao longo da vida, qualquer tipo de sindrome, etc. ou
(00:13) “Donald” : somos muito à frente no nosso tempo e sentimo-nos bué desenquadrados nesta sociedade. tendo isto dito
(00:14) “Amigo do Donald” : x)
(00:14) “Donald” : consolido a ultima afirmaçao com um quote que passo a citar "é ténue a linha que distingue um louco dum génio" pretendo com isto dizer que
(00:14) “Amigo do Donald” : puto, doente
(00:14) “Donald” : talvez nos consideremos superiores aos outros com razao, ou entao para quem vê de fora somos uma merda
(00:14) “Amigo do Donald” : era meter"um dos quartos do coraçao dele sou eu que ocupo"
(00:15) “Donald” : o que eu acho, é: somos à frente e nao somos doentes e que quem tem realmente uma doença são eles. mas a patologia de que padeçem lentamente é contagiosa, LOGO,
(00:15) “Donald” : por isso é que sentimos bué que o mundo circundante e a sociedade que nos rodeia está cada vez pior
(00:16) “Donald” : poderia, de facto, ser o nosso sindrome a desenvolver-se e nos estariamos cada vez mais destacados deles, sentindo-os cada vez mais superiores mas...nao
(00:16) “Donald” : nos continuamos iguais e imunes, eles é que estao cada vez mais...estupidos vá! percebeste? "

Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009

(é claro que alterei os nomes reais)

Do nunca do vosso,

Donald.

a corner of my home

"um canto do meu lar"
era o que lhe chamava
quando ainda tinha casa.
e ainda tinha no que pensar
era onde eu me sentava
e esperava,
e esperava,
quando ainda tinha casa.
era nesse canto do meu lar,
onde eu não desanimava
quando ainda um tinha sítio onde estar.

Friday, March 27, 2009

...

"...e todos os dias eu liguei, até que uma vez ninguém atendeu."

E hoje, ressacado de uma longa semana, vejo que o que me cansa não é o alcool, não são as drogas leves, muito menos as noites que acabam de manhã. Não há vitaminas que me acordem, nem despertem, simplesmente não existem.
Os olhos verdes verdes que antes marcavam cem pontos sempre que se cruzavam com os meus, já não o fazem mais. Ou fazem, e vão fazer sempre, mas vou deixar de os contar.
A tinta da minha caneta há de secar sempre que escreva sobre ti, e vou começar hoje.

Wednesday, February 25, 2009

na praça depois da meia noite (chapt. 3)

Passa por mim um estranho personagem, com um chapéu redondo de abas preto. Ou talvez castanho-escuro, a fraca luz do candeeiro que ilumina a praça não permite fazer a distinção. Esforço os olhos de astigmatismo para ver se me é familiar o rosto, está a mais de cem metros. Que complexa criatura! Caminhado com um ar esquivo parece tirado dum filme dos anos vinte, acompanha o chapéu todo um outfit que pende para o ridículo. Uma camisa com golas estupidamente grandes e gravata com um nó extremamente largo, será um lenço, provavelmente. Chuta um paralelo solto com a convicção de quem quer abrir um buraco no mundo com ele, provavelmente aleijou-se. Mas quem sou eu para criticar se acabei de esfolar um joelho por causa do simples barulho duma bolota?
O homem continua o seu caminho. Carrega qualquer coisa numa mão, mas não é perceptível. Será provavelmente uma pessoa importante. O casaco parece ser de qualidade e nem todos andam, hoje em dia, de bengala sem ter uma qualquer deficiência.
Os gritos não se voltaram a ouvir e a criatura já desaparece numa rua paralela, apesar de não saber que a praça tinha tanta vida a esta hora, caio novamente na solidão.

Saturday, February 14, 2009

na praça depois da meia noite (chapt. 2)

Eis que ouço um grito. Aquele grito histérico e irritante que nos quebra a concentração e nos tiram do mundo onde estávamos, da nossa esfera. E no fundo agradecemos. Saio do transe e escuto. Nada mais se ouve a não ser o bater das folhas do carvalho que estende os seus braços por cima de mim. Ouço um barulho, viro-me de repente e bato com o joelho na mesa. Era só uma bolota. Parece que, afinal, não se passa nada. Seria apenas um bando de adolescentes na vida boémia a soltar uma gargalhada de algo sem piada. Ou de nada mesmo. Ou então ficaram quietos e o álcool tratou de os fazer rir sozinhos… ahhh como é tão bom!
Passa uma ambulância. Está confirmado. O estado lastimável não vai ficar por aí e a gargalhada vai ter uma boa noite de sono numa cama, entubada no corredor dum qualquer hospital. E eu acendo outro cigarro. O gás começa-me a falhar o isqueiro apenas acende à terceira vez. O próximo, terá de ser com a ponta. Mergulho uma vez mais nos meus pensamentos, mas algo me puxa outra vez para a realidade com um serrar de dentes e um ardor. Cortei o joelho com o susto. Levanto as calças enquanto sacudo a cinza. Afinal é só um arranhão. Baixo-as rapidamente tal é o frio. Onde ia eu?

creature

Who are you
You there, trapped between my face and my pillow.
Falling doubtless, as if you know what to do or how.
Turning and spreading, leaving everyone behind
Twisting and tickling in my chick and my mind?
I am a tear – said she.

What are you doing
Going down crumbling,
As if you ran from something
When you know you’re part of me?
I am a tear – said she – and you are crumbling with me.

Creature brought from the hell
If it’s true what you say, I won’t ever know or even tell!
Who gave you the power to leave
And the strength to flow in your own swell?
I’m just a tear – said she – nothing more than your fear.

Fear? – said I
Fear?
How can you know that I cry
How can you even ear?
You, rolling down so shy
But armed with all that gear
Intended to cut me while I lay here
Tell me and don’t lie,
Tell me and be true!
How can you?
I’m your tear, spoke the creature that never stopped
And I have no mask, no shelter and no helmet
It’s not my fault if I was unlocked
If I’m here it’s ‘cause so you let!

How dare you
Said I – discouraged and spooked
To be so bold and arrogant!
Unless you were sent
By an angel, like it is wrote in The Book.
If so, don’t waste time and let’s go
Just do what you’re meant to
Take me to my Brook
Like I did myself a long, long time ago!
I am Brook, or what she turned into
Said she – like telling something she really knew
I’m what She brought, kept in your thoughts
And I was trapped, just came out now you blew.
Don’t call me creature, I’m all the beauty from the one you took.
I’m part of you, your old beloved Brook
Roll your eye down and look
I write my way like the angel in The Book.

Creature, yes!
You come here and break the grace
When I want peace and nothing less
Running down my face until I’m broke
Just bring me my Brook
That left when we were young without leaving even a note!
And the tear stopped right in my chin:
I’m Brooke and I’m not coming. I’m a tear and I’m leaving
This is the last stop before I fade
If I came so far, it was you who cut of the bleeding
On one last cry, you held the blade.
You choose this way and Brook will now stop hiding
Behind the curtain of a past you both made.
A curtain of a smile holding the sorrow, this and nothing more
Brook and I are gone forevermore,
The beauty of a tear is that they never come anymore
Write a new chapter on The Book, live for you and ask for more.
Thank you – said I, go now, trapped part of me
Go away and don’t come back, my dearly enemy.
And - staring at the cliff – the creature talked for the last time to me:
I’m a tear and I fall free.
I’m a tear and I’ve set you free.

Monday, February 9, 2009

24/01/2009

"Acordo como que com um bloco de cimento a fazer-me pressão na testa, é só mais uma ressaca. Só quero beber um copo de água, mas não tenho forças para me levantar. A semana foi uma loucura, não paro. Não me quero permitir ter tempo livre e o pensamento desocupado, sei que isso acaba com a tua imagem na minha mente. Ando a 200, desorganizado. A luz lá fora começa já a fugir. Óptimo. Foi mais um dia que consegui passar sem pensar em ti. Olho para a esquerda, nenhuma mensagem no telemóvel, no fundo…já o esperava. Viro-me para a direita, as garrafas de cerveja vazias do dia anterior, o cinzeiro cheio, as caricas espalhadas pelo chão, a desarrumação, o cheiro a festa e distracção que não deveria sair nunca e ficar entranhado no meu sofá, no meu tapete, na minha roupa, enraizado em mim. Por agora, apenas ficou o ambiente morto e abafado de nicotina cancerígena a pairar pelo quarto. E eu viro-me para cima, olho para o tecto e imagino se fazes o mesmo, se te sentes isolada mesmo quando rodeada de todos aqueles que mais te são. Se este fosso está a ser cavado com convicção, ou por obrigação. O vazio! Se precisas de mim. Eu preciso de ti. Acho que prefiro nem saber, o certo é que não tenho coragem de tentar saber, muito menos perguntar."
sábado, ‎24‎ de ‎Janeiro‎ de ‎2009, ‏‎02:10:11

na praça depois da meia noite

A crónica de uma morte anunciada, escrevo-a na minha mente enquanto vejo o nada. O vazio da praça que se estende depois da meia-noite. Sentado numa mesa dum bar já fechado, chuto o copo que alguém partiu e saboreio o gelo da noite. Levanto a gola e aperto o ultimo botão do casaco, tiro o isqueiro e acendo um cigarro. Frio e seco, apenas o fumo é quente em mim. Não nasci assim!
Está anunciado, a profecia foi ditada e o segundo dado já está parado. Roda grande ou roda pequena, estou fora do teu círculo e vejo-o afastar-se na bola de fumo em que o tornei, sim, a mesma que saiu de dentro de mim agora. Tornar-se pequeno em perspectiva à medida que se afasta e desaparecendo enquanto o fumo se desfaz. Algemas nos meus punhos, o que quero que não esqueças não to escreverei! Coisas que nunca irei ter de volta. Pontos nos meus lábios, o que quero que saibas eles não to dirão. Em mim apenas o guardarei, estupidez…eu sei! Com estas palavras dentro de mim eu morrerei.

Sunday, February 8, 2009

azarado (ou desencaminhado?)

Hoje recordo,
em todas as horas desde que acordo.
Desejo não procurar,
para novamente te encontrar.
A ti voltar,
assim ficar.

Não lembrado,
cada dia que passa mais encarcerado.
Não mais me chegou a mercê,
desse teu olhar gelado.

O Azar que me chamou,
e a ti encontrou.
Ao seu jeito nos juntou,
na sua fala, separou.

Ou talvez desencaminhado,
distraído sem o pretender,
por algo que eu nunca sequer
podia mesmo ter imaginado.

peça de arte

Sobrevivo, ou talvez sobrenãovivo, enfim, vivo para amanhã. Adio cada vez mais o dia de hoje e gasto a vida quais cartuchos de pólvora branca disparados para o ar a pensar no que não se passou ontem. Desenho o quadro da minha vida, tenho a paleta numa mão e o pincel de contorno a delinear, mas falta-me o preenchimento. Não tenho tinta com que o pintar. Deito-me e vou sonhar. Não consigo adormecer, fico-me por recordar. Vejo a tua cara e vibro com os teus olhos. Sinto-te, no entanto, com as cores duma película de 8mm…antigas e esbatidas, guardadas na prateleira. Aquela que metemos no projector quando a saudade aperta e queremos a toda a força sentir que temos algo a que nos agarrar. Sinto-te assim. Num passado remoto mas num passado bem presente. Aquele passado que eu queria que ainda nem tivesse passado sequer. Desta película já eu sei o final de trás para a frente, por isso já estou com o comando na mão. Faço-me de mágico, ou ilusionista, e fico atento. Já sei o que vou fazer quando chegar o melhor momento. Vou carregar no botão e parar. Vou ficar a olhar. Vou fazê-lo perpetuar…

LIP STITCHES


here we go...