Wednesday, February 25, 2009

na praça depois da meia noite (chapt. 3)

Passa por mim um estranho personagem, com um chapéu redondo de abas preto. Ou talvez castanho-escuro, a fraca luz do candeeiro que ilumina a praça não permite fazer a distinção. Esforço os olhos de astigmatismo para ver se me é familiar o rosto, está a mais de cem metros. Que complexa criatura! Caminhado com um ar esquivo parece tirado dum filme dos anos vinte, acompanha o chapéu todo um outfit que pende para o ridículo. Uma camisa com golas estupidamente grandes e gravata com um nó extremamente largo, será um lenço, provavelmente. Chuta um paralelo solto com a convicção de quem quer abrir um buraco no mundo com ele, provavelmente aleijou-se. Mas quem sou eu para criticar se acabei de esfolar um joelho por causa do simples barulho duma bolota?
O homem continua o seu caminho. Carrega qualquer coisa numa mão, mas não é perceptível. Será provavelmente uma pessoa importante. O casaco parece ser de qualidade e nem todos andam, hoje em dia, de bengala sem ter uma qualquer deficiência.
Os gritos não se voltaram a ouvir e a criatura já desaparece numa rua paralela, apesar de não saber que a praça tinha tanta vida a esta hora, caio novamente na solidão.

Saturday, February 14, 2009

na praça depois da meia noite (chapt. 2)

Eis que ouço um grito. Aquele grito histérico e irritante que nos quebra a concentração e nos tiram do mundo onde estávamos, da nossa esfera. E no fundo agradecemos. Saio do transe e escuto. Nada mais se ouve a não ser o bater das folhas do carvalho que estende os seus braços por cima de mim. Ouço um barulho, viro-me de repente e bato com o joelho na mesa. Era só uma bolota. Parece que, afinal, não se passa nada. Seria apenas um bando de adolescentes na vida boémia a soltar uma gargalhada de algo sem piada. Ou de nada mesmo. Ou então ficaram quietos e o álcool tratou de os fazer rir sozinhos… ahhh como é tão bom!
Passa uma ambulância. Está confirmado. O estado lastimável não vai ficar por aí e a gargalhada vai ter uma boa noite de sono numa cama, entubada no corredor dum qualquer hospital. E eu acendo outro cigarro. O gás começa-me a falhar o isqueiro apenas acende à terceira vez. O próximo, terá de ser com a ponta. Mergulho uma vez mais nos meus pensamentos, mas algo me puxa outra vez para a realidade com um serrar de dentes e um ardor. Cortei o joelho com o susto. Levanto as calças enquanto sacudo a cinza. Afinal é só um arranhão. Baixo-as rapidamente tal é o frio. Onde ia eu?

creature

Who are you
You there, trapped between my face and my pillow.
Falling doubtless, as if you know what to do or how.
Turning and spreading, leaving everyone behind
Twisting and tickling in my chick and my mind?
I am a tear – said she.

What are you doing
Going down crumbling,
As if you ran from something
When you know you’re part of me?
I am a tear – said she – and you are crumbling with me.

Creature brought from the hell
If it’s true what you say, I won’t ever know or even tell!
Who gave you the power to leave
And the strength to flow in your own swell?
I’m just a tear – said she – nothing more than your fear.

Fear? – said I
Fear?
How can you know that I cry
How can you even ear?
You, rolling down so shy
But armed with all that gear
Intended to cut me while I lay here
Tell me and don’t lie,
Tell me and be true!
How can you?
I’m your tear, spoke the creature that never stopped
And I have no mask, no shelter and no helmet
It’s not my fault if I was unlocked
If I’m here it’s ‘cause so you let!

How dare you
Said I – discouraged and spooked
To be so bold and arrogant!
Unless you were sent
By an angel, like it is wrote in The Book.
If so, don’t waste time and let’s go
Just do what you’re meant to
Take me to my Brook
Like I did myself a long, long time ago!
I am Brook, or what she turned into
Said she – like telling something she really knew
I’m what She brought, kept in your thoughts
And I was trapped, just came out now you blew.
Don’t call me creature, I’m all the beauty from the one you took.
I’m part of you, your old beloved Brook
Roll your eye down and look
I write my way like the angel in The Book.

Creature, yes!
You come here and break the grace
When I want peace and nothing less
Running down my face until I’m broke
Just bring me my Brook
That left when we were young without leaving even a note!
And the tear stopped right in my chin:
I’m Brooke and I’m not coming. I’m a tear and I’m leaving
This is the last stop before I fade
If I came so far, it was you who cut of the bleeding
On one last cry, you held the blade.
You choose this way and Brook will now stop hiding
Behind the curtain of a past you both made.
A curtain of a smile holding the sorrow, this and nothing more
Brook and I are gone forevermore,
The beauty of a tear is that they never come anymore
Write a new chapter on The Book, live for you and ask for more.
Thank you – said I, go now, trapped part of me
Go away and don’t come back, my dearly enemy.
And - staring at the cliff – the creature talked for the last time to me:
I’m a tear and I fall free.
I’m a tear and I’ve set you free.

Monday, February 9, 2009

24/01/2009

"Acordo como que com um bloco de cimento a fazer-me pressão na testa, é só mais uma ressaca. Só quero beber um copo de água, mas não tenho forças para me levantar. A semana foi uma loucura, não paro. Não me quero permitir ter tempo livre e o pensamento desocupado, sei que isso acaba com a tua imagem na minha mente. Ando a 200, desorganizado. A luz lá fora começa já a fugir. Óptimo. Foi mais um dia que consegui passar sem pensar em ti. Olho para a esquerda, nenhuma mensagem no telemóvel, no fundo…já o esperava. Viro-me para a direita, as garrafas de cerveja vazias do dia anterior, o cinzeiro cheio, as caricas espalhadas pelo chão, a desarrumação, o cheiro a festa e distracção que não deveria sair nunca e ficar entranhado no meu sofá, no meu tapete, na minha roupa, enraizado em mim. Por agora, apenas ficou o ambiente morto e abafado de nicotina cancerígena a pairar pelo quarto. E eu viro-me para cima, olho para o tecto e imagino se fazes o mesmo, se te sentes isolada mesmo quando rodeada de todos aqueles que mais te são. Se este fosso está a ser cavado com convicção, ou por obrigação. O vazio! Se precisas de mim. Eu preciso de ti. Acho que prefiro nem saber, o certo é que não tenho coragem de tentar saber, muito menos perguntar."
sábado, ‎24‎ de ‎Janeiro‎ de ‎2009, ‏‎02:10:11

na praça depois da meia noite

A crónica de uma morte anunciada, escrevo-a na minha mente enquanto vejo o nada. O vazio da praça que se estende depois da meia-noite. Sentado numa mesa dum bar já fechado, chuto o copo que alguém partiu e saboreio o gelo da noite. Levanto a gola e aperto o ultimo botão do casaco, tiro o isqueiro e acendo um cigarro. Frio e seco, apenas o fumo é quente em mim. Não nasci assim!
Está anunciado, a profecia foi ditada e o segundo dado já está parado. Roda grande ou roda pequena, estou fora do teu círculo e vejo-o afastar-se na bola de fumo em que o tornei, sim, a mesma que saiu de dentro de mim agora. Tornar-se pequeno em perspectiva à medida que se afasta e desaparecendo enquanto o fumo se desfaz. Algemas nos meus punhos, o que quero que não esqueças não to escreverei! Coisas que nunca irei ter de volta. Pontos nos meus lábios, o que quero que saibas eles não to dirão. Em mim apenas o guardarei, estupidez…eu sei! Com estas palavras dentro de mim eu morrerei.

Sunday, February 8, 2009

azarado (ou desencaminhado?)

Hoje recordo,
em todas as horas desde que acordo.
Desejo não procurar,
para novamente te encontrar.
A ti voltar,
assim ficar.

Não lembrado,
cada dia que passa mais encarcerado.
Não mais me chegou a mercê,
desse teu olhar gelado.

O Azar que me chamou,
e a ti encontrou.
Ao seu jeito nos juntou,
na sua fala, separou.

Ou talvez desencaminhado,
distraído sem o pretender,
por algo que eu nunca sequer
podia mesmo ter imaginado.

peça de arte

Sobrevivo, ou talvez sobrenãovivo, enfim, vivo para amanhã. Adio cada vez mais o dia de hoje e gasto a vida quais cartuchos de pólvora branca disparados para o ar a pensar no que não se passou ontem. Desenho o quadro da minha vida, tenho a paleta numa mão e o pincel de contorno a delinear, mas falta-me o preenchimento. Não tenho tinta com que o pintar. Deito-me e vou sonhar. Não consigo adormecer, fico-me por recordar. Vejo a tua cara e vibro com os teus olhos. Sinto-te, no entanto, com as cores duma película de 8mm…antigas e esbatidas, guardadas na prateleira. Aquela que metemos no projector quando a saudade aperta e queremos a toda a força sentir que temos algo a que nos agarrar. Sinto-te assim. Num passado remoto mas num passado bem presente. Aquele passado que eu queria que ainda nem tivesse passado sequer. Desta película já eu sei o final de trás para a frente, por isso já estou com o comando na mão. Faço-me de mágico, ou ilusionista, e fico atento. Já sei o que vou fazer quando chegar o melhor momento. Vou carregar no botão e parar. Vou ficar a olhar. Vou fazê-lo perpetuar…

LIP STITCHES


here we go...