Tuesday, June 14, 2011

...

Arrancam pálpebras a olhos que não querem ver.
Mas qual vão de escada cabisbaixo?
Marreco sentimento de lingua bífida,
declama sempre pelo lado errado.
Pudesse gritar pela coronária
a jorrar promessas por entre sístoles
e tumores eu não tinha
em tudo que não é palpável.

Sunday, February 6, 2011

regras

odeio disciplina tou farto de organizacao sou obrigado todo o dia a ter tudo controlado tou cheio de regras nao obedeço a regras vou de ferias e misturo a roupa suja com a lavada quando estou sozinho nao arrumo as gavetas vai tudo ao molhe e fe em deus mas sou contra a religiao detesto governos anarqia total cerveja morta na mão se a beber cabrito apanho uma onda direita e vou pa esquerda nao faco o quero fazer e o que me apetece porque o codigo penal e civil nao deixa agora e o acordo ortografico que se lixe a pontuacao macagar para acentos e maiusculas odeio compostura ortografica nao gosto de rebanhos sociais e nao pretendo ser correcto com isto ja passa da meia noite e tou ha 22 anos consecutivos a cumprir regras que se lixem as regras

Monday, January 10, 2011

i remember the corner.



Lembro-me de cantos, esquinas e lugares de alguém. Contornos, barulhos e gritos já idos. Alguns de raiva. Alguns gemidos. Escapadelas e encontros às escondidas. Lembro-me das noites passadas. Dos silêncios. Das feições que eram só minhas. Do segredo. Lembro-me do medo. De me ter apaixonado. De tentar resistir e desistir por não conseguir. De ter amado. Lembro-me de ainda não ter parado.

Thursday, January 6, 2011

senta-te um pouco por aqui

O que me custa isto de escrever. E não é que o faça por obrigação. Nada disso. Alias, apenas o faço quando sinto que pior não posso ficar. Sei que uma vez que me agarre ao bloco de notas não o vou largar enquanto não lhe conseguir meter tudo o que vai. Mesmo que seja para guardar o texto. Mesmo que seja para ninguém ler. Nem eu mesmo. Custa-me, portanto. Que enquanto finjo que tudo vai andando mais ou menos bem e uso a minha camada de bem estar superficial sobre a qual piso no dia a dia, não desco à cave e não remexo naquilo que não devo. Quando me sento às 3h da manhã para escrever sei que já não vou dormir. Portanto evito. É como enfiar a mão no esófago, abri-la bem largo e puxar tudo o que conseguir cá para fora. Ficar dez a quinze segundos sem respirar e depois pousar em cima da mesa. Montar mil pedaços de dor. Reviver cada momento ao longo de uma frase. E como sou mau escritor, tenho de re-escrever a mesma frase várias vezes. Portanto, comparo o meu medo da escrita a um miúdo de cinco anos que tem de ir lá a baixo. Sim. Porque as caves têm sempre formas, cheiros e sons que nos deixam desconfortáveis. E uma vez lá em baixo é que pensamos se temos alguém em casa com quem podemos contar para acender a luz. Ironicamente, a última frase fez-me, acidentalmente, descer mais três degraus. Já começa a ficar sombrio e já se sentem algumas presenças. Hoje não desco mais. Vou antes ter um duelo com um português vermelho.

Wednesday, January 5, 2011

. . . parte2

Estou aqui, estou ali, estou em todo o lado e ainda nem sequer saí. Passam dias, passam semanas. Passam minutos que parecem anos. Mudamos de sítio e ganhamos uma hora. Voltamos. Nunca nada está igual, está tudo sempre tão diferente. É da mente. É do corpo. É da gente. Conhecemos pessoas, ganhamos amigos. Perdemos amigos e esquecemos algumas pessoas. Tentamos esquecer outras e acabamos por nos apaixonar. Uns partem. Uns ficam para sempre. Outros partem e queríamos que ficassem. A vida não são dois dias. Fazemos a festa e vamos para o sol. Deprimimos. Bebemos e falamos. Saltamos. Ficamos no chão. Levantamo-nos. Nem sempre. Mas não rastejamos. Somos felizes, assim. Estamos tristes, assim também. Vamos para o mar. Metemos o pé no pó e olhamos para o ar. Olhamos para a estrelas. Com elas. Olhamos para elas. Com eles. Olhamos para os outros. Com os nossos. Olhamos sozinhos e chegamos à conclusão de sempre, é paixão que nos rouba tempo.