Thursday, September 3, 2009

volta ao mundo em trezentos metros

A meia maré vai subindo, e eu fico à espera de vê-la a vazar. Aqui, sentei-me na primeira abertura das nuvens e só me levanto quando for para o mar. São estes trezentos metros que palmilho todos os dias junto á marginal descalço a viagem da minha vida. E faço-a, se preciso, de olhos fechados. Sei-a decor: pelas linhas vermelhas, não pelos paralelos gelados, muito menos pela gravilha, seguindo o trevojar das ondas que atropelam o paredão de sul, só tenho que virar uma vez à direita assim que deixar de sentir a espuma bater-me na cara, afrontada pelo prédio do barbeiro. Trezentos metros. Quantos são os que não ouço todos os dias à beira mar sentados, deambulando que se não fosse isto e não fosse aquilo, iriam acolá fazer não sei o quê. Eu rio-me. Os pés nus que sempre se cortam no caminho, as feridas que tardam em sarar e o pulso que muitas vezes quis vazar com a maré conseguem sempre arder um pouco mais quando abraçados pelo sal. Mas não importa. Estes trezentos metros são uma bênção, não um calvário.
Da arriba, desfruto da minha solidão. Perco o meu tempo, é meu! Vejo o swell chegar, vejo o swell quebrar. E o ilustre molhe, que não se mexe quer a imensidão se vista de gala para ele, quer revele a ira da kalemba que o posterga.
Lembro-me da primeira vez que aqui desembarquei. Foram trezentos metros de jornada que fiz todos os dias, para poder chamar esta arriba a minha casa. Amanhã estou aqui outra vez.

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